10 Lições sobre Cultura de Inovação
Josep Miquel Piqué é um dos principais especialistas (e referência) na disseminação da cultura de inovação na Espanha e no mundo. Presidente da Rede de Parques Científicos e Tecnológicos da Calalunha (XPCAT) e da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (IASP), o ex-CEO do Distrito de Inovação 22@Barcelona, tem estreitado sua relação com o Governo do Estado do Ceará desde o final de 2017, no âmbito do projeto para o desenvolvimento dos Distritos de Inovação em Saúde de Fortaleza e Eusébio, o qual é gerido e articulado pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE).
O convívio e intercâmbio de conhecimento com o discípulo de Henry Etzkowitz e Jerome Engel tem proporcionado algumas das principais lições necessárias para nutrir uma cultura voltada à inovação e capaz de mudar a matriz econômica e social de uma região em qualquer lugar do mundo. Vejamos as lições deste catalão:
1 – Boas ideias precisam ser globais
Hoje, as grandes corporações procuram inovação em todos os lugares do mundo e a ideia que deve prevalecer é a da inovação aberta, que integra grandes e pequenas empresas. E esta conexão é que forma uma ecologia da inovação. Por isso, uma rede é tão importante para a pesquisa e para a própria inovação. As universidades já são globais. A ciência é global.
Quando pesquisadores produzem pesquisas e criam conhecimento, eles apresentam artigos em publicações internacionais, interagem com diferentes grupos e criam este cenário propício para a troca. As empresas também precisam se adaptar à essa realidade.
2 – Internacionalização das relações
Um território se prepara bem para inovar quando retém o talento, quando cria novas gerações orientadas como cidadãos globais e para o empreendedorismo. Abre espaço para a cultura inovadora quando atrai os jovens e cria condições, por exemplo, para que estrangeiros que estudam nas universidades locais queiram permanecer ali, viver, trabalhar naquele território.
3 – Educação empreendedora
Os estudantes precisam ter experiências práticas de empreendedorismo ou vivência sobre as empresas desde a escola, o ensino médio, a universidade. A cultura da inovação influencia os perfis profissionais. A melhor forma para que as crianças tenham vocação global, tecnológica, científica e empreendedora é que experimentem este processo dentro da educação.
4 – Internacionalização das empresas
Para que as empresas partam para a internacionalização, a primeira reflexão tem de ser interna. Como é possível agregar valor às suas capacidades para o mundo? É preciso um diagnóstico sobre o setor econômico que ocupa, com quem está competindo e com que mercados pode se conectar para vender produtos e serviços.
A internacionalização começa com a troca de informações. Se uma empresa pretende se tornar competitiva, precisa se comunicar com um centro de referência internacional.
5 – Gestão de transferência tecnológica
Na lógica de transferência tecnológica, centros de inovação precisam ser os protagonistas, proativos e partir das demandas das empresas, das suas necessidades. Os centros podem acelerar o atendimento de pequenas e médias empresas e fortalecê-las, porque estes estabelecimentos não têm tempo nem meios de financiamento para se adaptarem sozinhos. Os parques tecnológicos não podem ficar dentro de muros e devem ser capazes de virar referência em inovação e soluções para um território.
6 – Conhecimento como capital
O conhecimento é o novo ouro do século 21 e os pesquisadores o estão produzindo nas universidades e nos centros de pesquisa, que têm função chave na criação de conhecimento. Quem pensa que capital representa apenas dinheiro está enganado. Na cultura da inovação, ele é muito mais inteligente. Os centros de inovação têm de ser as portas do capital nas regiões, precisam acompanhar as empresas, dizer quais são as melhores formas de investimento, de recursos e convidar os bancos a dialogar.
7 – Agenda e diagnóstico
Um dos papéis de um centro de inovação na sociedade é se comprometer com uma agenda de interesses, reunindo informações sobre inovação tecnológica, formas de financiamento e oportunidades para reter e formar talentos. O quadro de comando deve prever o que se passa no território de todos os centros de inovação da rede. A informação ajuda a identificar as limitações existentes.
8 – O básico é indispensável
Na economia do conhecimento, precisa-se dar lugar aos talentos como matéria prima. Sem um planejamento nos municípios, não é possível desenvolver centros de inovação. Elementos como infraestrutura, energia e fibra ótica, por exemplo, são o básico.
9 – Redes para cultivar o coletivo
Os centros regionais de inovação devem ser núcleos de redes. O capital relacional é muito importante, é mais do que uma grande lista de contatos, é a forma de contato, o que é dito, a agenda de conversas. Uma rede de centros de inovação em um estado permite que cada unidade trabalhe localmente, conectada às demais, contribuindo com a produção de conhecimento coletivo. A ideia de competição entre as cidades é equivocada, uns têm de ser inspiração para os outros, estimular alianças para novos empreendimentos e o desenvolvimento de produtos.
10 – Investimento em qualidade de vida
Um polo de inovação não deixa de projetar alternativas para que os profissionais e suas famílias tenham qualidade de vida. É uma forma eficiente de reter e captar talentos. Em centros regionais de inovação, um modo de proporcionar esse tipo de integração parte do uso do espaço para atividades culturais, programação para a comunidade, inclusive, nos finais de semana. Assim, muda-se uma cultura para favorecer a inovação. Cultura não é genética, então, é preciso priorizar o coletivo.
Fonte: Inova Mundo em 24.02.19